sábado, 25 de fevereiro de 2012

Parapsicologia: A Primeira Lei - Enunciado, Discussão e Conseqüências

Por Dr. Geraldo Sarti (MSc.)
Parapsicólogo, Psicanalista, Engenheiro.
ABRAP - Associação Brasileira de Parapsicologia
FEBRAP - Federação Brasileira de Parapsicologia
IPPP - Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas
Co-editor desta revista e editor do site:
www.parapsicologia-rj-com.br
Artigo originalmente publicado no site (clique aqui).



ABSTRACT

We are introducing the first law of parapsychology, discussing it under multiple universe point of view and trying to make it true by a theoretical formulation. As as immediate consequence of the first law we present selection and repression of information factors and their local and false correlated psychosis and then we define the paranormality as an occasional opening in the repression factor

RESUMO

Introduzimos a primeira lei da parapsicologia, discutindo-a do ponto de vista dos universos múltiplos e tentando validá-la com uma formulação teórica. Como conseqüência imediata da primeira lei apresentamos fatores de seleção e repressão de informações e suas manifestações correlatas, psicoses locais e falsas, para então definirmos a paranormalidade como uma liberação eventual no fator de repressão.

INTRODUÇÃO

Não se pode afirmar ainda que a Parapsicologia já se constitua num corpo científico. Dependendo basicamente da observação da fenomenologia, das técnicas experimentais e da aplicação de testes estatísticos, ela ressente-se de uma teorização capaz de validá-la como ciência autônoma (o que a torna de natureza multidisciplinar) e de uma epistemologia que lhe seja apropriada.

Nossa tentativa neste artigo é a de esboçar um principio teórico que ao mesmo tempo em que se subjuga ao fenômeno parapsicológico e suas características, esteja igualmente apto a adaptar-se a uma reinterpretação de leis consideradas clássicas para criar a possibilidade de um melhor entendimento na apreciação de algumas importantes peculiaridades peculiaridades do fenômeno humano.

A  PRIMEIRA LEI  DA PARAPSICOLOGIA 

Os estudos de campo na Parapsicologia têm-se revelado convergentes sobre um aspecto fundamental o qual, pela significância estatística dos resultados obtidos, pode ser, com bastante força indutiva, generalizado em lei.

Passamos a enunciá-la como a Primeira Lei da Parapsicologia:

"O aparelho psicológico não está restrito aos limites físicos do sistema nervoso, preenchendo todas as regiões do espaço-tempo, independentemente das grandezas das medidas de distância e de tempo "
Sendo o aparelho psicológico o que se chama de um "domínio informacional" (13, 17),como corolário primeiro tem-se:
"O aparelho psicológico contém potencialmente todas as informações obteníveis do espaço-tempo, independentemente das grandezas das medidas de distância e de tempo"
Estando o espaço-tempo parcialmente ocupado por matéria e campos físicos, apresentamos como segundo corolário:
"O processo parapsicológico de aquisição de conhecimentos pelo aparelho psicológico não é afetado pela presença de matéria ou campos físicos que se situem entre  a fonte de informações e o sistema nervoso"

DISCUSSÃO

Convém salientar que a primeira lei da parapsicologia não conflita obrigatoriamente com o princípio do livre arbítrio. A teoria do estado relativo de Everett (3) nos fornece argumento para tal assertiva. Naquela teoria a memória do observador é influenciada na medição porque o observador faz parte de um sistema compósito observador-objeto.  Isso conduz inicialmente a completude desejada por Einstein-Podolsky-Rosen (2) e resolve o seu paradoxo respectivo.  A lógica simbólica de Everett ao introduzir fisicamente a variável "memória do observador", faz com que não haja colapso do vetor de estado no sistema do observador.  Todos os estados passados contidos na memória do observador fruto da sua interação com o objeto, contribuem na solução da equação de operadores para uma certa quantidade medida, independentemente das medidas posteriores da mesma quantidade.  Assim, há uma superposição de estados globais,cada qual remetendo a um estado de memória.  O resultado é o aparecimento de universos múltiplos ramificados, cada novo universo sendo produto de uma nova medição e modificando os anteriores sem apagá-los.  Como tais universos ramificados solucionam simultaneamente a equação de Schroedinger dependente do tempo,determinística mas também partem da escolha livre do que medir e quando medir, fica eliminado um possível confronto entre determinismo e livre arbítrio.

EVIDÊNCIA TEÓRICA

Foram, a partir da primeira lei da parapsicologia, idealizadas por nós partículas do tipo táquions (4,6), mas diferindo deles radical e estruturalmente. As propriedades principais de tais partículas, por nós chamadas psicons, aparecem a seguir:

I - Possuem pseudomassa em repouso real e massa em movimento imaginária. Viajam a velocidades super- lumínicas sem passar pela singularidade do fator de correção relativístico. Traçam intervalos métricos Spacelike e estão associadas a ondas planas completamente livres de forças reais. Sendo Spacelike, podem contrariar os princípios da causa e efeito, genidentidade física e entropia crescente. Sob esse último aspecto, podem ser consideradas portadoras de informação psicológica (18). Adequam-se ao primeiro corolário

II - Por estarem associadas a ondas planas, ocupam, pelo princípio da incerteza de Heisenberg, todo o espaço-tempo, concordando com a primeira lei da parapsicologia (18)

III - Não interagem com a matéria real e por isso adequam-se ao corolário segundo (15)

Propriedades secundárias seriam possuir capacidades de  cosmogonia por reprocessamento com a matéria (16), possibilidade de aplicar-se ã psicocinese por encurvamento forte do espaço-tempo local e produção de antimatéria (19)

Tais partículas reforçam a primeira lei da parapsicologia mas pela sua própria inerência não se enquadram nos critérios da epistemologia de Popper (10). Podemos sustentar sua existência reinterpretando leis e conceitos clássicos como por exemplo, conceder um significado quase físico ao domínio do  imaginário matemático.

EXEMPLO DA APLICAÇÃO DA PRIMEIRA LEI DA PARAPSICOLOGIA

A presente finalidade é dar uma interpretação ao fenômeno da paranormalidade.    Para isso traçaremos urna diferenciação entre psicoses  locais e falsas psicoses, respectivamente associadas ao que chamamos de fatores phi e ro.

I - FATOR PHI  E PSICOSES LOCAIS

O fator phi possui as seguintes características  (14):

A - Percebe e seleciona semanticamente informações sintáticas que possam ciar-se semanticamente aos conteúdos da consciência.

B - Age nas vias aferentes do sistema nervoso estando portanto associado à estimulação ambiental local.

C - É desempenhado pelo sistema de ativação reticular ascendente.

A atuação do fator phi impede que todos os pulsos de ação aferentes atinjam simultaneamente o córtex,  gerando desorganização da consciência e estado convulsivo por recrutamento generalizado de todo córtex.  Assim, sua principal função é exercer a prova associa-se/não associa-se aos conteúdos da consciência, de forma que a atenção possa ser exercida pelo indivíduo. 

As psicoses locais são por nós definidas como oriundas de falhas  no fator phi. Cameron e Payne (9) aceitam que colapsos num hipotético mecanismo de seleção sobre os impulsos sensoriais sejam em 50% das vezes a causa de casos esquizofrenia. O pensamento superinclusivo derivado do colapso na   seleção das informações sintáticas não permitiria a sobrevivência. Lovaas e Hutt e Hutt [(7) igualmente admitem que a síndrome autística seja resultado de defeitos   no mecanismo de funcionamento do sistema de ativação reticular ascendente.

Também, a insônia e distúrbios do sono, primeiros indícios da  depressão, podem ser ocasionados por depleção de serotonina nos núcleos do rafe (a ingestão de IMAO, e de facilitadores do metabolismo do Triptófano, restaura os níveis normais do neurotransmissor restabelecendo o sono fisiológico normal). Esse fato evidencia, de   forma indireta, a participação da porção do tronco do sistema de ativação   reticular ascendente na doença depressiva.

Sendo assim, as psicoses locais englobam algumas formas clássicas  de psicose classificadas no CID, exigindo tratamentos convencionais.

II - FATOR RO E FALSAS PSICOSES

Diferencialmente do fator de filtragem phi, hipotetizemos um fator de repressão chamado ro. Enquanto aquele atua sobre estímulos físicos que atingem os receptores terminais, o fator ro é a conseqüência imediata que deve reprimir ou manter não conscientes as informações universais que estão implícitas na conceituação da primeira lei da parapsicologia. Essas informações não sendo originadas de interações de campos físicos com o sistema nervoso são semanticamente graváveis no córtex cerebral, de forma direta, sem passarem pelas vias sensórias. Um mecanismo oposto ao da percepção sensorial. Assim, por exemplo, no caso da clarividência, o sujeito vê um evento que está ocorrendo a  quilômetros dele. Nesse caso houve uma falha no fator de repressão e uma informação universal específica foi impressa no córtex occipital. Isso pode explicar os mecanismos de sonho premonitório e de desdobramento durante o sono ou relax. Comutada a percepção sensorial, o sistema nervoso tenderá a absorver informações universais que em vigília beta não seriam conscientizadas. Tudo indica assim que um fator de repressão seja exercido pela própria atividade sensorial (nesse caso, confrontar com as experiências de privação sensorial ou Ganzfeld).

Um segundo fator ro seria exercido pelo hemisfério dominante dominante (esquerdo). Salles (11) no estudo de superdotados intelectuais por hipoxemia cerebral com conseqüente colateralidade hemisférica e disfunção cerebral mínima, observou neles a manifestação de telepatia e precognição. Parece, nos casos por ele observados, que houve uma diminuição de repressão devido à compensação, pelo  uso do hemisfério direito, da degeneração das células do hemisfério esquerdo.

Dentre outros, Luria (8) nos comunica que lesões nos lobos  frontais  áreas 4, 6, 8, 11, 12, 46, 45 e 10 de Brodman, podem provocar distúrbios no pensamento verbal e déficit intelectual, mas que o mesmo não ocorre com lesões nas respectivas arcos do H.D. o qual, supõe-se, distingue-se  por  atividade mais gestálica e intuitiva e lógica, portanto capaz de percepções  imediatas, o que concorda implicitamente com as observações de Salles (11). Entretanto, considerando-se um outro tipo de fator de repressão ro como originário de mecanismos de defesa cuja tendência é evitar a imagem do objeto hostil e que tal  processo não é interneuronal como fazia supor a antiga teoria metapsicológica (1,5), é provável que informações "hostis" que ameacem a atenção aos fatos relevantes à sobrevivência sejam reprimidas a nível exclusivamente psicológico.

Num plano bastante lógico pode-se concluir que o fator de repressão ro tenha as seguintes características:

A- É de natureza neurológica ou psicológica

B- Impede a representação consciente das informações universais

C- É exercido pela própria atividade sensorial, pelo hemisfério dominante   ou por fato representativo da psicologia do indivíduo

Com isto podemos definir as falsas psicoses como uma liberação   nos fatores de repressão ro. Elas caracterizam-se por estados paranormais de maior ou menor intensidade e que podem persistir por períodos mais ou menos longos, dependendo do  grau da liberação.

Para traçar um diagnóstico diferencial entre neurose e psicose, questionamos seis psicoterapeutas clássicos (dois psicólogos, dois psicanalistas e dois psiquiatras). Em perguntas verbais do tipo sim-não-não observado foram eles unânimes em apontar a manifestação paranormal corno uma das características diferenciais já observadas. A probabilidade exata binomial de acaso nas respostas desse grupo foi de 1 para 729, bastante significativa. Esse resultado, embora precário devido ã dimensão da população investigada, sugere uma certa confusão na interpretação do que é uma psicose e um estado de  paranormalidade. De acordo com as observações de Rhine (12), não há correlação qualquer entre psicose e paranormalidade.

Pelo que foi apresentado, o reforço do ego, a estimulação sensorial e o apelo à atividade analítica poderão conduzir o indivíduo ao estado sensório. Por outro lado a psicofarmacologia convencional é danosa devendo, nesse caso, ser pesquisada, já que os centros de repressão das falsas psicoses diferem dos centros  de filtragem das psicoses locais.

PARANORMALIDADE

Como ficou implícito, consideramos a consciência como a porção do aparelho psicológico que está acoplada ao sistema nervoso. Pela primeira lei da  parapsicologia, o aparelho psicológico é todo ele de natureza   informacional,  estendendo-se por todo o espaço-tempo. Vimos que falhas nos fatores de filtragem e repressão provocam psicoses locais ou falsas psicoses que são diferenciais.

Seguindo essa linha de pensamento definimos certo tipo de paranormalidade como "uma liberação ou falha qualquer no fator de repressão". Sob esse prisma, ela se insere nos seguintes casos:

I - Casos estatísticos, onde alternam-se intermitentemente falhas em ro  e predominâncias sensoriais ou analíticas

II - Casos espontâneos, em que a abertura em ro é provocada por uma adequação entre a informação universal específica e alguma característica consciente.

III - Casos controlados de falhas recorrentes no processo repressivo de uma  intensidade suportável pela consciência

IV - Casos descontrolados de liberações permanentes no processo repressivo, de uma intensidade não suportável pela consciência

Os casos de paranormalidade acima definidos são aqueles que envolvem a informação como elemento fundamental do fenômeno parapsicológico. Em parapsicologia são enquadrados como casos de PSI-GAMA e provavelmente também  de PSI-TETA. Os de PSI-KAPA (psicocinese) ficam ainda em aberto para posterior abordagem, bem como uma grande diversidade de fenômenos atípicos.

REFERÊNCIAS:

1.    BARROS, C.P. 1971 Thermodynamic and Evolutionary Concepts in the Formal Structure of Freud’s

                Metapsycology.  In S. Ariet ed. The World Biennial of Psychiatry and Psychoterapy 1:72. Basci Books

2.    EINSTEIN, A. PODOLSKY, B. e ROSEN N, 1935 Can Quantum – Mechanical Descriptions of Physical Reality

                Be Considered Complete? Phys. Rev. 47:777

3.    Everett, H. 1957 “Relative State” Formulation of Quantum Mechanics Rev. Of Mod. Phys, 19(3):454

4.    Feinberg, G. 1967 Possibility of Faster-Than-Light Particles Phys, Rev. 159(5):1089

5.    Freud,S. 1973 Proyecto de Una Psicologia para Neurologos. In Obras Completas 1:209. Biblioteca Nueva.

6.    Goldoni, R. 1973  Faster-Than-Light Intertial Frames and Tadpoles I1 Nuo Cim. 14A(3):501

7.    Hutt, C. E Hutt, S.J. 1969 Biological Studies of Autism J. Of Spec. Educ. 3:3

8.    Luria, A.R. 1979 El Cerebro Humano y Los Processos Psiquicos Fontanella

9.    Mayer-Gross, W., Slater, E. E Roth, M. 1976 Psiquiatria Clínica Mestre Jou

10.  Popper, K.R. 1975 A Lógica da Pesquisa Científica Cultrix/EDUSP

11.  Salles, J.C.F. 1982 Os Superdotados Alvorada

12.  Rhine, J.B. 1966 Fenômenos Psi e Psiquiatria Hemus

13.  Santos, H. 1982. O Tempo Quântico e  O Demônio Informacional. In Jornal de Hoje (ed) Anais do III

                Congresso Nacional de Parapsicologia e Psicotrônica. 105 ABRAP

14.  Sarti, G.S. 1980 Parapsicologia e Psicofísica WZ

15.  Sarti, G.S. 1982 Precognição Além da Relatividade. In Jornal de Hoje (ed) Anais do III Congresso Nacional de

               Parapsicologia e Psicotrônica 18 ABRAP

16.  Sarti, G.S. Psicons Monografia apresentada ao Instituto de Parapsicologia do Rio de Janeiro (não

               publicado) 1983

17.  Sarti, G.S. Psicons e Domínio Informacional: Uma Teoria Unificada Monografia apresentada ao Instituto de

               Parapsicologia do Rio de Janeiro (não publicado)

18.  Sarti, G.S. 1984 Psicons, Um Novo Modelo Psicofísico para ESP e PK Monografia apresentada ao Instituto

               de Parapsicologia do Rio de Janeiro (não publicado)

19.  Sarti, G.S. 1985 Metafanismo, Ectoplasma, Aura e Estados Transicionais Monografia apresentada ao

               Instituto de Parapsicologia do Rio de Janeiro (não publicado).



ADENDO

A 1º lei da Parapsicologia foi formulada em 1985, após  o que novos esclarecimentos e extensões lhe foram agregadas.  As referências 20, 21, 22 e 23 são de especial valia.

Em (21), Ronaldo Dantas procura ampliar a aplicação da 1ª lei, aos fenômenos de psicocinese, introduzindo os fatores PI e TAU, admitindo o fenômeno PK como sendo de natureza semântica e explicando porque, do ponto de vista parapsicológico, os indivíduos podem manter em níveis razoáveis sua condição neurofisiológica o suficiente para poderem sobreviver.

Em (23), procuramos estabelecer um elo lógico entre os psicons e as consciências, procurando deixar clara que a questão levantada e mantida por Einstein relacionada ao Paradoxo EPR conduz inevitavelmente à aceitação tácita do que a informação semântica é capaz de produzir ações à distância em experimentos quânticos.

Na referência (23) foi destacada de forma compacta e matemática o universo psicônico e suas relações com os fatores de redução PHI e RHO.

Finalmente, em (20), Horta Santos dá com bastante clareza e precisão sua concepção do Domínio Informacional e suas relações com os fatores de repressão, além de criticar com os fatores de repressão, além de criticar com amplitude o uso que fiz da Teoria das Perturbações Quânticas no domínio da informação equivalendo a potencial real nulo ou imaginário da perturbação semântica.

Outras alusões podem ser pesquisadas nos Anuários Brasileiros de Parapsicologia, editados pelo Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas.

O leitor interessado em aprofundar-se no tema poderá se dirigir ao professor Valter da Rosa Borges , endereço eletrônico rosaborges@terra.com.br.


REFERÊNCIAS DO ADENDO

20.  Horta Santos, J.J. 1998 O Tempo e a Mente – O Universo Inteligente – NOVA ERA

21.  Lins Figueira, R.D 1995 Curas por Meios Paranormais – Realidade ou Fantasia? IPPP/ASPEP

22.  Sarti,G.S. 1991 Psicons - do Real ao Imaginário – ABRAP

23.  Sarti, G.S. 2000 – Paradoja EPR, Psicons y Conciencia – Cuaderos de Parapsicologia 33(2):1

(*) ABRAP - Associação Brasileira de Parapsicologia, junho/2007